Já é madrugada.
No silêncio, consigo escutar as batidas do meu coração.
E claro, é difícil dormir.
Me levanto e começo a atravessar aquela grande ponte e logo paro para descansar.
Ali, me sento na ponta e, com os pés balançando, respiro um momento para dentro de mim.
Minha vida sempre foi um grande ato: eu me dividia entre milhares de personagens e acreditava que minha história cabia em uma tela de cinema.
Aventuras, paixões, objetivos cercados de ilusões.
Eu existia para viver romances momentâneos e vazios eternos.
Despencava em meus abismos e caía em minhas próprias armadilhas.
Nada daquilo era real, mas me bastava fugir do mundo e me cercar de quem nunca poderia ser.
Havia um vácuo em meu peito e eu apenas chorava.
Chovia dentro de minhas convicções, e sabia que um dia cada personagem teria que ir embora.
Já é madrugada.
E agora nos meus silêncios consigo Te encontrar. Sentado ao meu lado, sei que me entendes e que vê meus anseios, minhas angústias e minhas fragilidades.
Sei que cada personagem foi embora com o propósito de Te fazer ficar.
E que bom que ficou!
Ao meu lado, sei que choras quando choro e que sorri quando vê meu sorriso. Sei que estás ao cair da noite, nos momentos de insônia, no amanhecer.
Está amanhecendo agora, e tenho 21.
E ele é tão calmo, tão bonito. Esse amanhecer é tão meu que me sinto presenteada.
– Olhe só aquele sol, Papai! Obrigada por ficar e trazer um abraço nessa madrugada fria.
Agora consigo ter medo, consigo ter fé. Consigo viver quando antes apenas pensava ser possível existir.
Hoje consigo aprender, dia após dia, como é me amar.
E Te amar!
Hoje consigo dormir, sabendo que posso sonhar.