Chá do Teo: não julgueis para que não sejais julgados

Chá do Teo: não julgueis para que não sejais julgados

O título acima é o texto completo do versículo de Mateus 7. Cristo, durante o que é conhecido como Sermão do Monte profere essas palavras. É interessante, pois deve ser um dos versículos mais conhecidos no cristianismo contemporâneo. Mas… será que ele é corretamente compreendido?

Primeiro, é necessário entender uma coisa. Independentemente de você julgar ou não os outros, você será julgado. Se a sua ideia de julgamento é que, fazendo vista grossa ou ignorando o que acontece ao seu redor será levado em conta pelo grande juiz que se assenta no Trono Branco, você ainda não entendeu muita coisa. Seus pecados não serão acobertados porque você acobertou o pecado do outro. Mas você também não será visto como um herói se seu único trabalho foi apontar o pecado do outro.

Quando lemos o mesmo capítulo 7 de Mateus, vemos Cristo dando outra orientação interessante: “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?” [Mateus 7.15,16 (NVI)].

Muito bem, como você sabe se aquele líder religioso não é um lobo em pele de ovelha se você não julga os frutos produzidos por ele? Como avalia a qualidade das frutas de uma árvore se você não as come e depois julga: é doce ou azeda? A ideia de julgamento que está sendo disseminada na igreja contemporânea é errada e atenta na centralidade e verdade da Palavra. O “não julgueis” não põe em contradição dois homens, mas o homem pecador e Palavra de Deus que é Sagrada. É a Verdade de Deus que é contradita e calada quando você diz: Não julgueis.

O apóstolo Paulo, vendo que a igreja de Corinto enviava suas questões ao tribunal da cidade argumenta: “Digo isso para envergonhá-los. Acaso não há entre vocês alguém suficientemente sábio para julgar uma causa entre irmãos? Mas, ao invés disso, um irmão vai ao tribunal contra outro irmão, e isso diante de descrentes!” [1 Coríntios 6.5,6 (NVI)]. O mesmo Paulo, ensinando Timóteo a ser um verdadeiro pastor o aconselha a combater os falsos pastores e falsos ensinos [2 Timóteo 2.15-18]

Então, devemos nos tornar juízes?

Aqui está o maior problema de todos nós cristãos, e eu me incluo sem dúvida nisso. Nós deveríamos ter como alvo uma vida equilibrada, sabendo dosar todas as coisas. Acontece que nós tendemos sempre ao exagero. Se um amigo nos diz que está tendo relações sexuais com sua namorada, preferimos ficar em silêncio e não se opor àquela prática para não “julgar” ou então vamos pelo caminho totalmente oposto e já o levamos para ser apedrejado para que recebamos os “louros da vitória e da santidade” por lutarmos contra as potestades inimigas.

Nas duas formas, mostramos nenhum amadurecimento e amor cristão. Pois se negligenciamos o erro, mantemos nosso irmão e amigo em pecado, não o alertando do caminho de morte em que ele está, e se fazemos o contrário e o expomos, estamos, quem sabe, o matando para sempre também.

O que fazer então?

Primeiro: nós precisamos buscar uma vida em Santidade. Isso não significa ser santo e não pecar, mas significa não viver em pecado ou se alimentando dele. Como eu posso me alimentar do pecado? Você tem mais prazer em ler a Palavra de Deus, orar e estar com seus amigos e irmãos em Cristo ou em estar no meio daqueles que desprezam a Palavra e vivem uma vida em desacordo com os preceitos cristãos? Você mentiu? Você pecou… a mentira faz parte do seu dia-a-dia? Então você vive em pecado.

Segundo: “Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará!” [João 8.32 (ACF)]. Dedique-se a conhecer a Palavra de Deus. Quando conhecemos a Palavra de Deus, nossos conselhos são guiados pela Palavra, quando não conhecemos a Palavra de Deus, nossos conselhos são guiados e concedidos pelo nosso coração, e quanto ao nosso coração a Palavra diz o seguinte: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” [Jeremias 17.9 (ACF)]. Uma dica: não confie em seu coração, confie em Deus e em Sua Palavra.

Terceiro: não faça julgamentos temerários. Era disso que Jesus falava quando disse não julgueis. Ele falava para hipócritas e para os fariseus. Homens que criavam leis que não seguiam e que faziam falsos julgamentos. Eles mesmo julgavam-se santos e sem pecados, e julgavam a todos os outros homens pecadores e perdidos. O próprio Cristo falou contra eles: ““Quanto a vocês, peritos na lei”, disse Jesus, “ai de vocês também! porque sobrecarregam os homens com fardos que dificilmente eles podem carregar, e vocês mesmos não levantam nem um dedo para ajudá-los.”” [Lucas 11.46 (NVI)]. É muito fácil quando julgamos os outros com uma medida diferente da que julgamos a nós mesmos. Mas a medida deve ser a mesma [Mateus 7.2].

Quarto: tenha compaixão. Compaixão não é sinônimo de conveniência. Alguns, para manter uma amizade, optam pelo silêncio; pois bem, o seu silêncio pode ser a diferença entre o Céu e o Inferno para aquela pessoa. Se você realmente o ama e o tem como amigo, pense bem a respeito do seu silêncio. Quando a adúltera foi trazida à presença de Cristo, ela foi trazida não para ser julgada, mas para ser condenada. A sentença sobre ela estava definida, ela devia ser apedrejada. Cristo, mostra àqueles homens que eles possuíam pecados tão graves quanto os dela e que alguns de seus pecados também eram dignos de apedrejamento. Quando eles se retiram, ele olha para mulher e ao contrário do que muitos pensam, não passa a mão por cima de sua cabeça e a deixa em sua vida de pecados, Ele a perdoa e profere uma ordem: “Vá, e não peques mais!” [João 8.11]. Não diga que seu amigo ou amiga não está em pecado, mostre para ele que Cristo pode perdoa-lo, mas que ele precisa imediatamente parar de viver em pecado.

Quinto: tenha uma vida de oração. A oração nós torna mais sensíveis à Palavra de Deus, nós somos renovados por ela e ela nos dá confiança para falar daquilo que é próprio de Deus. Você pode ser muito versado na Palavra de Deus, mas se você não ora, você apenas decorou a Bíblia e decididamente não a vive. A oração nos faz viver a Palavra e torná-la prática em nossas vidas. Assim, nós nos tornamos capazes de arrancar as traves que atrapalham a nossa visão para poder com segurança e amor remover os pequenos ciscos que atrapalham a visão de nossos amigos e irmãos em Cristo.

Sola Gratia (Somente a Graça)