Chá do Teo: o pecado

Chá do Teo: o pecado

Bem, você já deve ter ouvido e lido sobre diversas definições para o pecado. Provavelmente, as vezes, talvez bem poucas, em que você ouviu sobre pecado você pensou que poderia estar ouvindo ou lendo sobre outra coisa. Afinal, porque você estaria preocupado com o pecado, se há coisas mais importantes para pensar como a graça, a salvação, as bençãos, a prosperidade… pois bem. Acontece que a vida de Cristo como homem e sua morte na Cruz não são resultados do Seu amor e de Sua graça, mas a consequência direta do seu e do meu pecado. Então sim, é importante entender muito bem o que isso significa.

O apóstolo João é bastante objetivo ao explicar o que é pecado: “Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei.” [1 João 3.4 – NVI] Logo: pecado é transgredir a Lei de Deus. E vamos nos ater apenas à esta interpretação e mais nenhuma. Pelo simples fato de ela ser clara, objetiva e simples. Talvez você já tenha ouvido que pecar é errar o alvo. Não… definitivamente isso é a etimologia da palavra pecado no grego, que tem este sentido, “errar o alvo”. Mas não, pecado não é cometer um erro neste sentido. Ao lançar uma flecha e errar o alvo eu não peco, eu falho. E pecado definitivamente não é uma falha, mas deliberadamente uma afronta a Santidade de Deus.

Peguei pesado? Então continua lendo… não costumo aliviar.

Uma vez ouvi um pastor dizer que pecado era um engano. Que uma pessoa, ao se enganar e cometer um ato ilícito, ela pecava. A isso chamo de mentira. Quando um pastor ou qualquer um que se propõe a anunciar o Evangelho o falsifica para tornar mais agradável ao homem, ele está mentindo, e ao invés de aproximar homens da verdade, ele os torna duas vezes mais filhos das trevas (Mateus 23.15).

Quando pecamos não cometemos um engano. Quando você, ontem, ou quem sabe hoje mesmo, decidiu que faria X quando podia ter feito Y (isso não é Matemática, sério), você fez esta escolha deliberadamente. Você não fez X porque achou que ela era mais certa que Y, você a fez talvez porque ela lhe agradaria mais, talvez fazer X tenha te dado até algum tipo de prazer, senão você provavelmente não teria feito. Agora, se você olhar para trás, você verá que você não se enganou quando o fez. Você olhou para X e Y, olhou para as duas situações, analisou, pesou na balança os prós e os contras, pensou na possibilidade de ser pego ou não, de descobrirem isso no futuro ou não, e depois de ter alguma segurança (falsa segurança), decidiu por X. Veja, você não se enganou. Você sabia o que estava fazendo o tempo todo.

Vamos ao que a Bíblia ensina sobre isso: “Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte.” [Tiago 1.14-15 – NVI]

Nós não pecamos por engano. Nós sabemos exatamente aquilo que nos faz resvalar do Caminho Estreito e conhecemos muito bem os efeitos disso. Veja um exemplo bíblico disso: a mulher adúltera que foi levada à presença de Cristo para ser apedrejada (João 8.3-11). Alguém comete adultério por engano? Você simplesmente olha para outra mulher e deseja ter um relacionamento extraconjugal com ela por engano? Sim, não estou falando das vias de fato, estou falando quanto ao conceito de Cristo exposto em Mateus 5.28. Ao olhar uma mulher na rua, não importando a roupa que ela usa, o perfume, ou como ela anda, quando você pensa o que não deveria pensar, pensa por engano?

Bem, pecado não é engano e também não é apenas “errar”.

Quando pecamos cometemos rebelião contra Deus. Vamos lá, você sabe quem foi o primeiro ser criado a “pecar”? Sim. Foi um anjo que imaginou que poderia estabelecer seu trono junto ao trono de Deus, ou quem sabe até em um lugar mais alto. Sabe qual foi o pecado de Adão? Rebelião. Hum… mas não foi desobedecer? Bem, basta pegar a definição da palavra rebelião e você verá que ela é a mesma coisa que desobedecer. Quando seu pai diz para fazer uma coisa e você faz outra você está se rebelando contra a autoridade dele. Rebelião e desobediência são sinônimos.

Se vamos para o livro de Deuteronômio (9.7) ou Josué (1.18), vemos que Deus tratava seu povo no deserto como rebeldes. O motivo? Eram desobedientes a seus mandamentos. Por 40 anos rebelaram-se contra Deus e por 40 anos pereceram no deserto. “Pois o salário do pecado é morte” [Romanos 6.23a – NVI]. Então, quando pecamos, isto é, quando deliberadamente cometemos um erro que, ainda que muito difícil, poderíamos evitar simplesmente não o fazendo, nos rebelamos contra Deus. Assim, temos que o pecado é uma ação de rebelião deliberada contra Deus.

Tá ficando complicado né? Tudo bem, mas não vou parar por aqui, vou só mais um pouco.

Você já sabe que pecado é um erro causado por uma ação deliberada da sua parte. Também sabe que essa ação traduz-se em um ataque à Santidade de Deus, isto é, rebelião. Agora mais uma coisa, toda vez que você faz isso é como se você mais uma vez pregasse a Cristo na cruz. Sério? Sim, vamos mais uma vez para a Palavra. É ela que nos ensina, não eu.

Em Hebreus 6.6 diz que quando caímos, é como se crucificássemos para nós mesmos a Cristo, e o expomos mais uma vez ao “vitupério” (uma palavra difícil que significa vergonha). Sim, quando pecamos é como se déssemos de costas à cruz enquanto nossos pecados estão sendo imputados sobre aquele que não merece. Quando pecamos somos o soldado que retira a roupa de Cristo na presença de todos, somos os soldados que cospem em Sua face, cravam a coroa de espinhos sobre sua cabeça e esfregam a esponja de vinagre em seus lábios feridos.

Sério, você ainda pensa que quando peca você só está cometendo um engano ou quem sabe apenas errando o alvo?

Não estou escrevendo tudo isso para assustá-lo, mas para persuadi-lo a buscar compreender realmente o que significa essa palavra em conceito espiritual profundo. É realmente lamentável que a igreja contemporânea não veja mais o pecado como algo verdadeiramente assustador e danoso. O apóstolo Paulo traduzia bem o poder destruidor do pecado ao escrever: “Pois o Pecado não terá mais domínio sobre vocês, pois não estão mais debaixo da Lei mas da Graça” [Romanos 6.14 – NVI]. O poder do pecado domina sobre os homens e os mantém cativos e mortos (Romanos 7.23, 1 Coríntios 15.56).

Cristo veio para nos dar vida e nos livrar do domínio do pecado, nos dando vida onde antes só havia morte (Efésios 2.1). Quando pecamos deliberadamente, rejeitamos a poderosa obra da cruz, e figuradamente expomos novamente Cristo àquela vergonha, porque decidimos não vencer a tentação, mas ceder a ela e nos rebelar contra Cristo.

Cristo foi para a cruz por causa do seu pecado, inclusive esse que você acabou de cometer. Pense nisso.