Avenida Paulista 900. Do alto da escada, dois olhos atentos filtram desapercebidos buscando encontrar a si mesmos. São quase meio-dia, e logo o alarme indicará que uma multidão de conexões dará uma pausa no trabalho.
Enquanto as pequenas massas se aproximam das lojas, restaurantes, bares, farmácias e bancos, algo diferente acontece: elas não se olham mais. Os dois olhos não encontram nenhum com quem possa se ligar. Ninguém nota, ninguém repara, ninguém dá a mínima por estar sendo observado por fora. Será que não percebem que estão sendo observados por dentro? Elas – as pessoas – não conversam mais. Definitivamente, as conexões não criam pontes entre mais ninguém. Andar não é mais sinônimo de caminhar, mas de flutuar. Flutuar em meio à realidade paralela que se vive nas mentiras do mundo perfeito dentro das redes sociais. Lá há o melhor de cada uma delas. São as pessoas mais belas, encantadoras, espiritualizadas, politizadas e divertidas. O par de olhos observa pequenos sorrisos entre os passos. Possivelmente, lá se vão 100 curtidas em uma foto. Ou talvez ela respondeu o inbox enviado na semana passada. Finalmente ele aceitou a solicitação de amizade, e agora poderá acompanhar quão feliz ela é. Algo está sendo alimentado dentro desses corações (in) visíveis. Talvez aí seja a explicação de se estar tão adoecido.
Elas não se comunicam mais. Um tanto paradoxal para alguém que acabou de conseguir 100 curtidas em um status, não é mesmo? Enquanto os olhos continuam procurando outros olhos que o possam olhar e o ajudar, permanece sozinho no meio da multidão. Aquele garçom no restaurante da esquina não consegue anotar o pedido, porque na mesa está acontecendo uma reunião por Skype que não poderia ser deixada para depois do almoço. Elas – as pessoas – não esperam mais.
A caixa da loja de departamentos tem que esperar a cliente trocar a música do Spotify, afinal, aquela trilha definitivamente não combina com a alegria de estar adquirindo mais uma roupa que não precisava. O rapaz que está triste pelo falecimento da mãe endureceu o coração, e prefere ver um vídeo motivacional no YouTube do que receber o abraço do amigo que está ao seu lado. Tudo bem, ele não se importa mesmo. Encontrou uma oração batata no Google e mais tarde vai enviar para confortá-lo.
E elas continuam correndo, sem imaginar que estão correndo de si mesmas. Grandes executivos, estudantes aspirantes a gênios, homens e mulheres que dão duro todos os dias para levar um pouco do suado pão para casa. Eles não se conhecem mais pessoalmente. Não se conhecem mais intimamente.
Olha! Duas pessoas conversando! Ah… Não era uma conversa. Uma apenas estava mostrando os últimos compartilhamentos do BuzzFeed. Que divertido.
Segredo da semana: estudar e trabalhar no centro de São Paulo me faz ter milhares de conversas com Deus. A maioria, a respeito da superficialidade gerada pelo URGENTE. Todos os dias fica um pouco mais difícil mergulhar. No outro, em si, em Deus… E torna-se um processo doloroso esse de confiar.
Desafio da semana: talvez o texto já tenha dito muito, mas preciso dizer que um relacionamento com Deus anda de mãos dadas com a confiança e o desejo de mergulhar. Nele, em si, no outro. Ainda que seja difícil quebrar a superficialidade, o amor de Deus é maior. Será que conseguimos tentar mais uma vez? Vou te ajudar nisso! Vem comigo!