Hoje foi mais um daqueles dias: ócio puro. As férias da faculdade me trouxeram algo que eu já temia: o nada. E ele não é bom, como muitos pensam. Entre fazer um nada e outro nada, estava a conversar com minha vó, no confortável sofá novo da sala. Ela, na convencional poltrona da vovó, anotava a receita da moça da TV. Um canal qualquer, provavelmente desses religiosos que possuem programas de culinária e bugigangas.
Nesse contexto, algo me chamou a atenção. Após a receita da salada gostosa, o programa estava mostrando uma moça ensinando a construir pequenas árvores de Natal. Eu, já entediado com a programação, na minha costumeira falta de paciência, acostumado com a rapidez de um mundo veloz, indaguei: “mas por que tu tá assistindo isso, vó?” E ela disse, com entusiasmo: “eu tô esperando a receita da sobremesa”. Aquilo foi suficiente pra eu ter inspiração pra este texto.
Algo simples, inócuo, sem a profundidade me deixou boquiaberto. Imediatamente após ela me dar a resposta, pensei: “mas, é só ela desligar a TV e procurar no Youtube, Google, na Internet! Ela não precisa esperar a sobremesa. Se fosse eu…”. O pensamento logo foi cortado por outro: “mas a vó não tem isso. E ela é feliz assim, a vida dela é devagar, offline, e ela ainda consegue!”. Minha indagação me assustou, de fato.
Acabei me dando conta de algo que penso constantemente: não sei mais esperar. Perdi a capacidade de esperar os 15 minutos de desperdício passarem pra eu poder ver a receita da sobremesa. Em poucos segundos, através do meu smartphone, tenho acesso a milhões de receitas, e até mesmo vídeos que mostram as melhores formas de preparar os pratos que eu quiser! Acabei perdendo a capacidade de esperar ansioso o próximo episódio daquele seriado massa: ou eu baixo, ou eu uso Netflix, e todos os episódios estão instantaneamente diante de mim. E aquela conversa com os amigos, com a família? Não sei mais esperar por elas também.
Os relacionamentos se tornaram superficiais, a vida está andando sobre as águas, estamos esquecendo de mergulhar. Quando Jesus veio nos salvar, Ele soube esperar. Iniciou Seu ministério aos 30 anos. Até então, trabalhou com sua família, e viveu uma vida absolutamente normal, como de qualquer judeu na época. Em três anos, Jesus mudou o curso da história, e deixou um legado para nós. Não apenas Cristo, mas outros figurões bíblicos, como Jacó, Daniel, Jó, José, Abraão. Todos possuíam a mesma qualidade: sabiam esperar. E o que temos feito com nossas vidas?
Tem sido difícil, em muitas circunstâncias, para mim, esperar. Que aprendamos com Jesus e com tantos exemplos bíblicos, que esperar é o melhor, seja num relacionamento, seja no nosso dia-a-dia. Jesus disse que a casa construída sobre a rocha resistirá (veja Mateus 7.24-27, para o texto todo), e todos sabemos que o alicerce é uma etapa demorada em uma construção civil. Que “percamos” nosso tempo construindo nossa casa na rocha, que esperemos no Senhor pela Sua vontade. Que esperemos pela vinda de Cristo, com ansiedade, mas confiança. Então, quem sabe, conseguimos anotar a receita da sobremesa, dando chance aos 15 minutinhos que precisamos esperar.