Eu não escolhi esperar

Eu não escolhi esperar

Você escolheu esperar? Por quê?

É necessário que eu explique no início deste texto que não estou escrevendo contra um ministério específico ou contra alguém que decidiu ser adepto de algum movimento gospel ou cristão contemporâneo. Pelo contrário, sou favorável a que jovens e velhos cristãos envolvam-se em ações e grupos cristãos, isso pode nos enriquecer e nos auxiliar no crescimento espiritual. Este texto também não serve apenas para o “exemplo” citado acima, serve para qualquer movimento ou ação cristã que tem como proposta a santificação por obras da carne, isto é, esforço humano.

Vamos lá então… voltando a pergunta: Por quê?

Como cristão sempre me pergunto se esperar o casamento para ter relações sexuais com a/o namorada/o deveria ser a escolha de um cristão. Você já pensou que essa deveria ser a atitude ou “estilo de vida” natural de um cristão? Nós obviamente fazemos e falamos diariamente coisas que fogem a natureza cristã, somos naturalmente pecadores, e ainda que nascidos agora pelo Espírito, cometemos pecados quase todos os dias, nos iramos no trânsito, reclamamos das autoridades, usamos palavras torpes e inadequadas, mentimos… mas isso teoricamente não é nosso estilo de vida… erramos e cometemos pecado, mas não vivemos nele.

O que aprendo com a Palavra de Deus é que todo nosso esforço carnal é inútil para que nos tornemos mais santos. Eu mesmo, ainda que esteja escrevendo isso, faço lutas carnais contra meus pecados, isto é, esforços próprios contra muitas coisas que sei que corrompem minha vida, como meu linguajar por exemplo, travo lutas intensas contra isso, mas ainda assim falho e falo o que não devo e uso palavras que não deveria usar. Ainda que busque em Deus libertação disso, como sou humano, muitas vezes recorro à soluções humanas, e tenho a duras penas aprendido que elas são burras e ineficazes. Não me resta muita coisa senão recomeçar e recomeçar. E aí entram essas campanhas e ações que julgam, por algumas decisões intelectuais que tomamos, de que iremos nos tornar mais santos ou mais próximos de Deus.

Parece cool, mas na verdade é legalista. Usa a mesma fórmula fracassada dos fariseus que vemos nos evangelhos do Novo Testamento contestando Cristo. Eles julgavam que ações morais, como dar o dízimo, distribuir pequenas esmolas e orar em voz alta nas esquinas os aproximaria de Deus e os tornaria mais santos. Acontece que eles eram então chamados de hipócritas por Cristo, isto é, alguém que usa uma máscara para esconder aquilo que realmente são. Ser cristão não é ter uma moral mais elevada que os ímpios. Não ter relações sexuais antes do casamento, não falar palavrões, não mentir, não pensar coisas inadequadas… tudo isso não deveria ser motivo de orgulho, deveria ser algo natural, não deveria ser alvo em nossa vida, deveria é fazer parte da nova vida que recebemos em Cristo.

Proibições não são a solução para a santificação. O apóstolo Paulo escrevendo para a igreja de Colossos (Colossenses 2.20-23), mostrou para eles que ordenar “Não toque!”, Não faça!” eram ações insuficientes para conter os desejos da carne, e que elas possuíam apenas “aparência” de cristãs e sábias. Cristo exemplificou bem isso quando disse: “Se você apenas olhar com intenção… já adulterou.” (Mateus 5.28). Logo, ainda que superficialmente, isto é, externamente eu “escolha esperar”, eu posso já ter avançado o sinal se o meu coração não for realmente convertido.

Não tenho dúvidas que a Palavra nos ordena a converter o coração a Deus e não o corpo (obviamente um coração convertido reflete isso no corpo). No Antigo Testamento Deus já dizia ao povo: “Circuncidai o vosso coração” (Deuteronômio 10.16) e repetiu a ordem por intermédio do profeta Jeremias (Jeremias 4.4). Aos Colossenses (2.11) o apóstolo Paulo afirma que a nossa circuncisão não é feita por mãos humanas, mas pelo poder de Cristo. Assim, não podemos e não temos forças para extirparmos de nós mesmos desejos, vontades e práticas impróprias para o cristão. É Deus quem efetua em nós tanto o querer quanto o realizar. (Filipenses 2.13).

O que isto significa? É Ele, o próprio Deus, quem vai nos por no coração o desejo de abandonar o pecado ou mesmo não fazê-lo, pode ser por alguma coisa que ouvimos, um conselho, um aviso, ou mesmo em sonho… mas Ele não nos diz o que devemos fazer e fica assistindo passivamente do Trono nossas inúteis ações contra o pecado. Com o mesmo amor que Ele nos diz PARE! Ele também realiza em nós, isto é, transforma nossa mente, coração, língua, corpo etc. para que alcancemos Nele todas as coisas, e então o glorifiquemos pelo que Ele é e pelo que Ele faz. Para que em nada nos gloriemos senão Nele. Autor e Consumador da Fé.

Ore ao Senhor, clame por Seu auxílio… Por fim, deixo um de meus textos favoritos no Antigo Testamento: “O Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos os que o invocam com sinceridade. Realiza os desejos daqueles que o temem; ouve-os gritar por socorro e os salva.” (Salmos 145.18-19)

Soli Deo Gloria