Gula

Gula

Admito que esse assunto não é nem um pouco simples de abordar. Primeiro, porque pouco se fala nele, as informações são escassas; e, segundo, porque eu talvez não seja a pessoa mais adequada para abordá-lo. Embora as pessoas não enxerguem a maioria dos meus pecados (avareza, luxúria, inveja, soberba, etc), a gula é evidente no meu corpo. Todos sabem que sou gordinho (para usar um termo mais “fofinho”) e, de cara, já podem assumir que a gula está presente na minha vida. É claro que nem todo gordinho é guloso e nem todo magrelo é controlado. Conheço inúmeros magrelas que comem mais do que eu e continuam magros. De qualquer modo, o pecado da gula pode ser novidade para alguém e deve ser levado em conta.

É estranho pensar que comer pode ser uma atitude pecaminosa. É algo tão bom e prazeroso, sem qualquer dose de consciência pesada quando feito com moderação. Culturalmente, há um paradoxo guloso: se por um lado somos incentivados a comer fast-food, experimentar novos tipos de comida, tomar refrigerante e comer aquele brownie gostoso com sorvete, por outro somos condenados quando aparecemos na praia com aquela barriguinha! É uma verdadeira contradição social. E o Cristão fica no meio dessa mistura não sabe onde se posicionar. É por isso que a Bíblia aborda esse pecado, apesar de não ouvirmos falar nele.

Quando Jesus foi levado ao deserto para ser tentado, Ele havia jejuado por 40 dias. Após esse período, a primeira oferta que Satanás fez foi: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães” (Mateus 4:3 NVI). O tentador estava imediatamente oferecendo comida para um faminto, atacando o cerne da fraqueza de Jesus naquele momento. É claro que Cristo era Deus, mas sua natureza humana pode ter hesitado por um instante. Satanás sabia que nesse ponto somos extremamente vulneráveis. E, se analisarmos com cuidado, a sua oferta não caracterizava algum pecado esdrúxulo; comer, no entanto, era algo errado naquele momento de jejum.

Qual é, então, o problema com o pecado da gula? Em inúmeras passagens bíblicas, somos encorajados a cuidar do nosso corpo, que é o templo do Espírito Santo. Se agirmos com displicência, acabaremos prejudicando aquilo que Deus nos deu de mais precioso: nós mesmos. As estatísticas estão aí para comprovar: somos uma geração que morre em decorrência de doenças causadas pela obesidade. A máxima aqui se aplica: “Tudo em excesso é ruim”.

Não apenas por motivos de saúde física, mas também espiritual. No caso de Jesus, Ele estava em jejum há dias. O jejum é uma atitude importante e de alto valor espiritual. A tentação imediata nesses momentos é a gula, a vontade desenfreada de comer algo delicioso. E é preciso aprender a rejeitar essa necessidade quando estamos nos consagrando a Deus.

O pecado da gula não é muito comentado nos dias de hoje, mas pode abrir portas para outros abismos. A gula nos leva à um estado forte de falta de domínio próprio. Quando não possuímos esse domínio nem mesmo com nossa alimentação, é muito difícil aplicarmos ele em outras áreas da nossa vida. Eu digo por experiência própria: controlar a gula é difícil, mas mais difícil é quando esse descontrole me leva a cometer outros pecados. Controle um a um, de acordo com a força que Deus lhe dá. Assim você não dá espaço para que um pecado leve a outro pecado.