Eu estava sentado em frente ao computador, tentando achar as palavras e textos bíblicos certos para falar sobre a ira. A verdade é que há muitos textos interessantes sobre o tema e não faltam exemplos de como não proceder. Decidi tentar uma abordagem diferente. Vem comigo!
A ira não opera a justiça de Deus [1] – estarei usando esses referenciadores, pois não quero que algum hyperlink atrapalhe a leitura deste texto! Aliás, é praticamente impossível afirmar que a ira pode, de alguma forma, operar qualquer resultado. Inúmeras vezes já fiquei irado no trânsito, no trabalho, na faculdade, com minha família e com minha namorada! Foram diversas as vezes em que me irei contra o próprio Deus, achando-me no direito de olhar para cima e dizer: “Qual é a Tua?!”. Não repitam essa atitude, Deus não se agrada de murmurações! Em suma, a ira é algo que foi e é presente na minha caminhada. Não posso negar, iro-me com facilidade em determinados momentos.
No entanto, não lembro de uma única vez em que a minha ira no trânsito tenha de fato resolvido o meu problema instantâneo. Depois de atravessar na minha frente, aquele pedestre não voltou no tempo e desfez sua atitude! Além disso, minha ira apenas provoca a ira do outro, e o ciclo segue como já conhecemos. Ela é sutil e pode ser altamente destrutiva. Há algo de interessante, contudo, sobre a razão e forma com que se irar.
Tomlin conta um caso em seu livro, em que Charles Roberts, um caminhoneiro de 32 anos, teria perdido a filha, Elise. Charles, em determinado momento da sua vida, não suportou a dor e, tomado de raiva e ódio, tomou uma arma e assassinou cinco meninas em uma escola, antes de tirar a própria vida. O caso é trágico, mas real. Charles sentiu a dor da perda e, irado, entendeu que teria o direito de provocar dor semelhante a outras pessoas. Esse é um exemplo clássico de como a ira pode ser destrutiva a ponto de ocasionar uma tragédia.
Um outro caso muito famoso é a atitude de Jesus diante dos vendedores no templo [2]. A história conta que Cristo fez um chicote de cordas e expulsou os cambistas, virando suas mesas. Eu imagino a indignação de Cristo ao enxergar tais atitudes no templo que seria dedicado a Deus. Neste caso, porém, a “ira” de Cristo foi contra o injusto e errado. Dessa forma, entendemos que a ira pode ter um lado construtivo, quando utilizada a favor do que é certo.
É importante entendermos que o sol não deve se pôr sobre a nossa ira (isto é, o dia não pode acabar e ainda permanecermos irados) [3], o resultado dela é o pecado [4] e não devemos ser apressados em nos irarmos [5]. É ponto pacífico que a ira não é algo bom e justo. Ela pode ser destrutiva de formas inimagináveis. Porém, como no caso do templo, é importante entendermos que, ao nos irarmos contra a injustiça e as obras do mal, tomamos atitudes que podem ser justas. É impossível ver uma criança sendo espancada e não se irar. Ela faz parte de nós e do nosso senso de justiça. A atitude, entretanto, é o que move a mão de Deus, não a ira em si. Se nos irarmos contra grupos terroristas que assassinam Cristãos, por exemplo, devemos realizar a ação da oração, de nos erguermos com nossa fé contra aquele mal.
De modo geral, a ira é negativa. Cuide para não permitir que ela domine seu coração e sua mente. Uma vez não dominada, a ira pode se tornar destrutiva e contagiosa. Assim como outros pecados, ela necessita de uma boa dose de domínio próprio. E este, controla inclusive a nossa gula. Falaremos sobre ela na próxima semana. Deus abençoe!
Referências
[1] Tiago 1.19-21
[2] João 2.14-17
[3] Efésios 4.26-30
[4] Provérbios 30.33
[5] Eclesiastes 7.9