Era a minha última apresentação naquele palco. Do camarim, podia ouvir a plateia se direcionando até a saída, com o barulho das vozes diminuindo a cada instante.
– Você foi muito bem hoje, querida! Que aplausos foram aqueles? – exclamava um.
– Você criou algo incrível nessa noite! – dizia outro.
E meu coração estava verdadeiramente agradecido.
Já estava tarde, mas ainda assim esperei que todos fossem embora. Queria olhar todo aquele ambiente mais uma vez.
Ali da coxia, apenas a luz que iluminava a plateia estava acesa e me sentei na boca de cena, com o coração ao meu lado. Na mão.
– Acho que somos só nós agora.
– Finalmente.
– E então, como é estar na posição de criadora?
– Bom. Cansativo, mas dá um orgulho no fim. É assim que se sente?
– Como?
– Assim, cansado e orgulhoso ao mesmo tempo.
– Não, cansado não.
– E o que acontece quando as cortinas se fecham?
– Só sobra você, filha. Sobra a realidade. Sobra tudo!
– Ah não.
– Ah sim! Você cuidou com tanto carinho com cada uma das suas criações, mas você é uma das Minhas. Me deixe cuidar de você. Eu consigo!
Nos abraçamos por um momento, olhando todas aquelas cadeiras vazias e admirando o silêncio. Nada mais importava. Ali consegui enxergar a beleza de se entregar e me deixar ser amada. Era real.
– E quanto aos aplausos?
– O que tem eles?
– Eu gosto deles. Me sinto reconhecida, respondida, vista. Também é assim com Você?
– É. Quando Meu nome é adorado, sim. Mas o que vem antes não é melhor?
– Como assim?
– O que vem antes. O processo. Você só se alegra porque sabe o sacrifício que teve para que aquele momento valesse a pena.
– Então, quando vê a Criação…
– Eu vejo a Cruz.
– Eu também, Papai. Eu vejo a Cruz.
Saindo do palco, não olhei para trás naquela noite. Olhei para frente, para a Cruz. Eu não era mais a criadora. Eu era Criação e estava pronta para viver o amor mais louco do mundo.
O amor da Cruz!